O contraponto das palmeiras
[Crônica do dia 24 de junho de 2002]
A prefeitura está plantando palmeiras na avenida Faria Lima. Já plantou também na avenida Afrânio Peixoto, que é a avenida de entrada da USP. E plantou árvores de outras espécies na pequena e irrelevante praça Vicente Rodrigues.
É bonito ver as árvores com folhas novas, algumas semanas depois de plantadas. Tão bonito como ver as palmeiras começando a balançar as folhas, soltas e verdes, mostrando que pegaram.
Com ações deste tipo, todas feitas na cola do Projeto Pomar, a prefeitura pode contribuir em muito para fazer São Paulo uma cidade melhor, mais humana, com menos poluição.
Pode espalhar o verde por regiões onde hoje a única cor em seus diferentes tons é o cinza, que às vezes é manchado de vermelho pelo sangue que escorre de algum corpo baleado.
Fazendo isso, pela cidade inteira, com certeza, a prefeitura estará inclusive colaborando para diminuir o número de mortes e reduzir a violência.
E isto é muito bom. Por isso vem a pergunta: se prefeitura está plantando palmeiras e árvores em geral pela cidade, por que decidiu cortar as árvores – algumas centenárias – da praça Dom José Gaspar?
Qual a lógica envolvida no processo, se a proposta é revitalizar uma região que, desde que virou praça, sempre teve estas árvores, que eram as árvores da antiga casa do bispo?
Não dá para entender. Ainda mais quando o argumento usado é de que a praça será reurbanizada para ter de novo o apelo que fez dela, no passado, o lugar preferido por artistas, boêmios e jornalistas.
Numa cidade onde o verde é moeda rara, cortar árvores que não precisam ser cortadas é um crime, que desmerece os esforços da prefeitura, plantando as palmeiras no outro lado de São Paulo.
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