Uma fábula paulistana
[Crônica do dia 13 de agosto de 1998]
Os patos e os cisnes são primos. E, à sua moda, ambos são lindos. O cisne majestoso com seu pescoço curvo e o pato com suas penas coloridas, nadando ágil lago adentro, chamam a atenção de quem os vê.
Os cisnes são o símbolo da fidelidade. Quando acasalam é para vida toda, ou, pelo menos, deveria ser. deveria ser sim, porque nem sempre é. Existem cisnes que se reacasalam, como a cisne viúva que o leão matou o companheiro, quando ele foi defendê-la do ataque do rei dos animais, indignado por ter sua sesta perturbada por ela.
É incrível, mas o zoológico de São Paulo conseguiu reacasalá-la, ou pelo menos, me contaram que conseguiu.
Pois, o mesmo lago que acompanhou as desventuras da cisne acaba de assistir a outro lance trágico do destino, que, numa madrugada fria, separou mais uma vez um cisne de seu companheiro. Não que o cisne fosse homossexual, não é isso. O que aconteceu é que depois da morte do cisne que lutou com o leão e da ida da cisne e do rei da floresta para o zoológico, um outro casal de cisnes negros veio morar no mesmo lago.
Passados alguns anos um dos cisnes morreu, ficando ou outro sozinho. Foi aí que um pato caneleiro chegou no lago e também solitário, se aproximou do cisne, passando a dividir as mesmas águas com ele.
Durante anos os dois viveram juntos, com a amizade crescendo e se consolidando até parecer para quem os via que os cisnes e os caneleiros nasceram para viver juntos. Só que a vida nem sempre acaba com final feliz.
Numa noite escura entraram no jardim do lago e roubaram o cisne, que, já velho, não deve ter oferecido muita resistência. Agora o pato caneleiro anda de um lado para o outro, solitário e triste, tentando ficar amigo de um bando de gatos, que, ele não sabe, ainda acabam por comê-lo.
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