O fim de mais um ícone

O Centro Velho de São Paulo foi famoso pelos sanduíches. Vários estabelecimentos fabricavam verdadeiras obras de arte, que se igualavam aos pastéis da Pastelaria Onze de Agosto e da Pastelaria Acadêmica, as duas em frente da Faculdade de Direito, onde hoje é o respirador do metrô, no Largo do Ouvidor. Em comum elas tinham pastéis imbatíveis e o feio vício de serem sistematicamente fechadas, alternadamente, uma e outra, pela Vigilância Sanitária, o que não desmerecia a justa fama, nem o gosto dos pastéis, o que, aliás, não me incomodava. Até hoje sou fã de pastéis de queijo e o problema eram os pastéis de carne.

Mas, voltando aos sanduíches, tinha o Lírico, o Maranduba, o Guanabara e a Casa Califórnia, além de vários outros bares, como o Rei da Salsicha. Cada um no seu estilo, o Maranduba e o Guanabara investindo nos sanduíches inventados; o Lírico, num menu mais tradicional; e a Casa Califórnia, nos sanduíches de linguiça de Bragança, que eles também vendiam por quilo e eu comprava para comer nos finais de semana.

A Casa Califórnia era uma portinha do lado esquerdo da Rua São Bento, no primeiro quarteirão saindo do Largo do Ouvidor. Era tão pequena que, além do micro balcão onde se preparavam as comidas e sucos mágicos, tinha uma escada no canto que dava numa espécie de mezanino, onde ficavam estocados os ingredientes. Além das linguiças e salsichas, as laranjas para fazer o suco, que também era famoso.

Fundada ao redor de 1920, a Casa Califórnia brilhou por décadas, servindo seus sanduíches e sucos e vendendo as linguiças de Bragança.

Há alguns anos, ela mudou de lado na rua e foi para um local maior. Daí pra frente, a decadência do Centro Velho e a perda da alma do lugar conspiraram para o que aconteceu agora. A Casa Califórnia fechou as portas. Mais uma baixa na luta inglória contra a decadência do Centro Velho.