Fogo!

Pouca coisa é mais triste do que um incêndio. É triste ver as chamas consumirem um imóvel. É triste pensar que, além do imóvel, queima também o que está em seu interior, móveis, objetos, lembranças, sonhos e esperanças. Queima a vida das pessoas, o passado, o que viveram, o que fizeram, o que guardaram porque era importante.

As chamas, em certos momentos, são incontroláveis. Neles, tanto faz os bombeiros agirem ou não, o fogo segue célere em sua rota de destruição e, quando pensamos que está controlado, uma chama escondida no fundo, atrás dos restos destruídos pela água, uma chama que ninguém imaginava que pudesse sobreviver, se levanta e recomeça a queimar. E o fogo se alastra de novo e retoma o que estava rescaldado como numa competição entre a natureza e o ser humano.

O fogo hipnotiza, nos leva em sua dança, nos faz chorar de tristeza pela destruição que causa, pelo que apaga da vida das pessoas. O fogo vai e volta, sobe e desce, se encolhe e se alastra, toma um andar e sobe para outro, meticuloso, seguindo as correntes de ar que o avivam, que o alimentam, que o fazem seguir em frente, milímetro a milímetro, devorando o que encontra pelo caminho, até que o combustível acabe e ele lentamente inicie sua dança de morte, lançando fagulhas num último estertor.

Mas quem imagina que o fim das chamas tem o dom de nos alegrar nunca viu a destruição causada pelo combate ao fogo, nem nunca sentiu o cheiro ácido do material queimado molhado pela água ou viu como fica o chão, recoberto por uma camada densa, formada pela fuligem, pelos restos do que havia antes e pela água suja que empapa, forma uma liga escura e aumenta a destruição. Um incêndio, qualquer incêndio, é trágico. Se um grande incêndio é imponente, o pequeno fala de gente que perdeu tudo e invariavelmente não tem como recuperar.