Emanoel Araujo
No dia que tripudiaram da história e da herança brasileira, transformando o bicentenário da independência numa vergonha eleitoreira, o Brasil perdeu um de seus maiores nomes na área cultural. Morreu Emanoel Araujo.
A morte do grande homem pode ser vista como a revolta contra tudo o que a estupidez humana propôs para a cultura nacional nos últimos anos.
Enquanto vozes tão loucas como os destruidores dos Budas esculpidos na montanha prometem sandices inimagináveis para a cultura nacional, inclusive transformando o Ministério da Cultura em departamento do Ministério do Turismo, Emanoel Araujo construía, criava beleza, engrandecia e enriquecia seu Museu Afro Brasil. Um templo da inteligência, do resgate da história, da dignificação de um povo e a releitura de sua inserção na sociedade brasileira.
Não fosse sua ação durante dez anos à frente da Pinacoteca do Estado de São Paulo, um dos museus mais icônicos do país dificilmente teria a dimensão e a importância que tem hoje.
Emanoel Araujo era um gigante na sua capacidade de empreender, mas quem sabe fosse maior ainda como ser humano. Não posso dizer que o conheci bem. Estive com ele poucas vezes, em eventos na área cultural, mas serei eternamente grato pela forma como preservou e valorizou a memória de uma das figuras mais importantes do teatro brasileiro, dando o nome de Alfredo Mesquita ao Teatro da Pinacoteca.
Ele era muito ligado à minha prima Valéria Mendonça, que foi levada por ele para a Pinacoteca do Estado, onde fez carreira como restauradora das obras do acervo. Emanoel Araujo está enterrado no Cemitério da Consolação, no mesmo túmulo que a mãe e a avó da Valéria. Conhecendo os três, imagino as conversas entre eles. Descanse em paz, Emanoel Araujo!
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