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Patético mas verdadeiro

[Crônica do dia 5 de agosto de 1998]

O Brasil é mesmo o país do absurdo. Se Camus fosse vivo, eu não tenho dúvida que, conhecendo o nosso país, ele o incluiria no seu livro “O mito de Sísifo”, que trata do absurdo humano levado ao seu extremo.

Agora mesmo, quando a nação é chacoalhada com os escândalos que abalaram a credibilidade dos remédios e dos laboratórios, por conta das falsificações e adulterações descobertas no mercado, surge um golpe novo, vindo na cola do escândalo, de forma bem brasileira.

Picaretas travestidos de fiscais da vigilância sanitária estão achacando farmacêuticos, com base na apreensão de remédios falsos ou ilegais eventualmente comercializados em suas farmácias.

É completamente surrealista mas é verdade. Golpistas estão se fazendo passar por agentes do Ministério da Saúde para tirar dinheiro de farmacêuticos desonestos, com a ameaça de uma devassa para levantar os medicamentos falsos ou sem nota fiscal existentes em suas farmácias.

Como diria o ditado popular, “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.

Com uma agravante, o farmacêutico ou o dono de farmácia que se dispõe a colocar no mercado remédios falsificados não deveria ostentar o título, nem ser dono de um estabelecimento comercial com a credibilidade que as farmácias têm. Seu lugar é na cadeia, ao lado dos piores bandidos que assolam a população do país.

Poucos crimes podem ser mais execráveis do que a venda de remédios falsos.
O delito é muito mais do que hediondo, como também o são o sequestro, o estupro, o latrocínio e o tráfico de drogas.

Assim, tem a sua graça saber que comerciantes inescrupulosos estão sendo achacados por picaretas mais inescrupulosos ainda, que vão lhes tirando dinheiro por conta do medo que têm de acabarem na cadeia.

É bem feito, mas seria melhor se no lugar dos picaretas estivessem fiscais, que em vez de tirar dinheiro de bandidos, zelassem pela saúde dos brasileiros.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.