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Mel sente frio

Eu adoro mel! Como regularmente no café da manhã com bolo e queijo de minas. Tem um cidadão que vende mel na porta de casa. Passa uma vez a cada dois meses e traz diferentes tipos, em garrafas de um litro que duram bastante. Mel silvestre, de flor de laranjeira, de abelha jataí etc.

Um dos problemas de gostar de mel é o vidro, ou o recipiente onde ele é colocado para ser servido. Nem todos são práticos, outros são feios, outros alguém implica e por aí vai. Por conta disso, minha filha Marina me deu um pote com uma tampa que tem um sistema que abre o vidro com o dedão puxando uma lingueta para trás para servir o mel, que cai do pote no bolo como se fosse uma pequena cascata funcionado em câmera lenta.

Acontece que mel sente frio. Isso mesmo. Quem come mel regularmente sabe que nos dias frios ele ganha consistência, engrossa, fica difícil de sair do pote. Aí é uma briga de foice nas trevas, um ato de paciência até ele decidir dar as caras e escorrer lentamente para o pedaço de bolo esperando embaixo.

Nessas horas, você se irrita, duvida da Bíblia, fica sem saber se a Terra Prometida é mesmo a terra de leite e de mel abençoada por Deus. Nenhum produto que demora para escorrer como mel com frio pode ser sinônimo de paraíso, de terra de bem-aventurança. Do lugar onde é se jogar na grama e esperar um rouxinol pousar no galho da oliveira que te dá sombra e começar a cantar para a beleza ganhar forma no corpo da mulher que vai até a fonte com um pote na cabeça.

Cada um sabe de si, eu poderia usar outro vasilhame para guardar o mel do meu café da manhã. Mas todos têm prós e contas, então, tanto faz, vamos em frente com paciência e fé porque o pote de mel que eu uso me lembra um que tinha na casa dos meus pais quando era criança. E entre secos e molhados ele acaba funcionando.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.