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Mais uma discriminação

[Crônica do dia 7 de outubro de 1997]

Não bastasse a lei proibir que patos e pombas tenham a morte digna que eles merecem, tombando abatidos por tiros certeiros de espingarda, que auxiliariam no controle da natalidade das espécies; não bastasse as jiboias autóctones serem obrigadas a esmolar pelas selvas e campos, impedidas de trabalhar no teatro, como fazia sua avó, a jiboia de luz Del Fuego; não bastasse tantos absurdos que são cometidos contra a flora e a fauna nativas; eis que mais uma agressão ameaça a igualdade perante a lei entre animais brasileiros e animais estrangeiros e, o que é pior: o desigual, o sem chance, o sem teto, o perseguido pela lei brasileira é o animal brasileiro.

As manias se espalham pelo mundo com a rapidez de fogo em palha seca. Recentemente globalizado, o Brasil começa a sentir as vantagens da integração mundial, com as modas chegando por aqui mais rapidamente do que até há alguns anos, quando nós vivíamos o que o mundo havia vivido, com 20 anos de atraso.

Graças à abertura que revira a nação de ponta cabeça, o que acontece lá também acontece aqui, seja para o bem, seja para o mal, seja para o que ninguém sabe o que seja, mas que dá dinheiro para alguém.

É assim que a moda da adoção das cobras, largamente difundida pelo mundo dito civilizado, vai ganhando corpo no Brasil, porém com um único senão: as cobras adotadas não são cobras brasileiras, mas cobras importadas, como se as cobras brasileiras fossem tão ricas que elas pudessem abrir mão de um teto, ou de um par de ratos a cada 15 dias.

E a culpa é da lei! Da demagógica lei ambiental brasileira, que condena os animais com origem de nascimento comprovada e que tanto fizeram pela história da pátria, ao desterro dentro do próprio país, passando necessidades as mais absurdas, porque não podem ser adotados por outros brasileiros.

Não bastasse a perfeição do nosso estatuto do menor, agora são os animais nativos que são prejudicados em favor das cobras estrangeiras.

É um verdadeiro absurdo!

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.