A FIFA está certa
[Crônica do dia 25 de agosto de 2010]
Futebol é a vida colocada num campo, ou numa moldura relativamente pequena, com 22 pessoas jogando e mais 4 controlando o jogo. 22 representam os seres humanos, 4 representam as forças superiores além do nosso controle.
Destino, sorte, fatalidade, hora e vez. O jogo de futebol é mágico porque nele a vida é retratada em toda sua crueza, sua crueldade e sua beleza. Com todos seus imprevistos, suas surpresas, sua forma de consertar o torto entortando mais ainda o que já nasceu sem jeito.
Por que a bola que bate na trave de um goleiro faz uma curva e entra no gol e a que bate na do goleiro do outro time faz uma curva ao contrário e saí, para a linha de fundo?
Por que a mesma bola chutada com toda arte pelo atacante pega efeito e passa a 2 centímetros da trave, enquanto chutada com a canela, caprichosamente desvia do beque e entra no canto, rolando mole, meio centímetro fora do alcance do goleiro?
Por que o time que joga melhor, de repente, numa única jogada do adversário, perde um jogo que estava ganho?
A emoção do futebol é isso e muito mais. E o muito mais passa pela possibilidade do árbitro errar; do bandeirinha não marcar um impedimento; do pênalti ser cavado; do gol ser feito com a mão.
Passa pelo grito de juiz ladrão, pelo huuuuu, quando a bola passa rente, pelo grito mágico que redime todos os pecados – goooooool.
Colocar equipamentos para repassar a jogada e mudar a decisão do árbitro é tirar do jogo uma parte importante da sua razão de ser. Futebol não é tênis. É o contrário. Futebol é a vida representada no gramado. O erro e a má fé fazem parte dele, até pra dar mais graça ao jogo.
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