A passagem do tempo
[Crônica do dia 17 de setembro de 1997]
O tempo passa. Passa de várias formas, a começar pelo giro da terra ao redor do sol, marcando os anos a cada trezentos e sessenta e cinco dias. Passa nos dias que passam, rápidos ou lentos, dependentes duma série de fatores que os encompridam ou encurtam.
O tempo passa nas filhas que crescem, em suas dúvidas que mudam e em seus anseios. passa no primeiro baile da prima que faz 15 anos. Nos passos da valsa dançada meio que sem jeito.
Passa no brilho dos olhos refletindo a descoberta da vida. no encanto da menina virando mulher. Na descoberta do que elas imaginam que é o amor.
O tempo passa. Passa na casa que precisa ser pintada, no carro que já é outro, na fazenda que não é mais minha.
Passa nos primeiros cabelos brancos. na idade que aumenta, inexoravelmente, ano após ano. Nos primeiros amigos que se vão. Nos parentes que se vão… e nas ilusões que a vida desmascara.
O tempo passa no nosso brilho refletido numa galáxia a milhões de anos luz.
passa nos sonhos dos quais a gente acorda. Na corrida sem sentido que nos põe frente a frente, todos os dias, com a vida.
Passa no dinheiro que é preciso ganhar, no trabalho que enobrece, no futuro distante que de repente já é passado.
O tempo passa. Passa nas músicas e nos filmes que tocam as músicas de trinta anos atrás. Na cara dos atores que envelheceram. nas estórias que falam de outro mundo, com outra face.
O tempo passa, mas o tempo também fica.
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