Carandiru registro geral
[Crônica do dia 6 de dezembro de 2007]
Acabo de receber de presente de Hector Babenco um livro impressionante: Carandiru – Registro Geral. Feito em cima das filmagens de Carandiru, o livro resgata a lembrança e o horror do maior presídio da América do Sul. Implodido após sua desativação em consequência do massacre resultante de uma rebelião de presos, o presídio virou filme de sucesso. E o filme agora vira livro, levando para dentro de casa as imagens e as lembranças brutais de como o inferno pode se parecer.
Hector Babenco é um dos maiores diretores do cinema brasileiro e atualmente seu nome e a competência de seus filmes vão muito além das fronteiras nacionais ou argentinas, onde ele nasceu.
Sensível, delicado na forma de tratar cada imagem, o diretor tem a capacidade de transformar seus filmes em obras fortes, que chegam a ser devastadoras no impacto que causam no público.
Dono de um estilo marcante cada filme de Hector Babenco é um descobrimento, ou como diria Manuel Bandeira, um alumbramento.
O livro Carandiru – Registro Geral segue os traços do autor. Impacta, marca e expõe com crueza a perplexidade do ser humano diante do destino, ao mesmo tempo que o resgata, mostrando como ele consegue ultrapassar este destino para sobreviver sem perder a dignidade.
Com todo seu horror, dentro do presídio era possível se ter dignidade. Não sucumbir ao inferno, ao terrível, a falta de opção.
Cada foto do livro mostra isso. Mostra como os cenários foram feitos e como a história do presídio foi preservada, ou perpetuada, dentro de um projeto de resgate de memória que tem por base os mesmos sonhos e aspirações que desde a Ilíada movem o ser humano: sua luta para não perder a noção de quem é.
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