O camping da ponte

[Crônica do dia 23 de abril de 2001]

O nome é quase poético, perfeito para um camping que pretenda ter sucesso. Camping da Ponte. Soa bem, é forte, romântico e faz lembrar de um riacho com árvores na margem e capim dentro da água limpa, correndo sobre um fundo de areia onde os lambaris de rabo vermelho nadam despreocupados.
Pena que não é nada disso. Primeiro porque a região só tem rios muito sujos, e, depois porque a ponte não é uma ponte de madeira de estrada do interior, mas a ponte da Cidade Universitária, que liga as duas margens do Pinheiros, cruzando por cima de suas águas imundas o trânsito alucinado da cidade infatigável.

Do lado da USP tem uma alça de acesso que sai da Marginal e entra na rua Alvarenga e outra que sai da ponte e entra na Marginal. No meio existe um gramado, uma praça, que, faz tempo, tentam transformar em camping, durante anos sem sucesso, mas de uns meses para cá conseguindo ocupar suas encostas suaves com carros e barracas.

É uma cena quase edificante. Os carros não tão velhos, as barracas de lona e plástico, crianças brincando em volta e carrocinhas de papel paradas próximas, provavelmente vendendo suas cargas de miséria para os espertos moradores do pedaço, que, se não fossem espertos, com certeza não teriam os chevettes e passats estacionados debaixo das árvores plantadas na praça.

É alegre ver as crianças brincando na grama, enquanto seus pais cuidam de seus afazeres, entre a roupa secando em varais improvisados, lavadas com água sabe Deus vinda de onde.

Sem dúvida nenhuma, a utilização perfeita da alça de acesso da ponte da Cidade Universitária foi finalmente descoberta: servir de camping para quem não tem onde morar em São Paulo se instalar provisoriamente, enquanto espera uma casa ou um apartamento, de preferência de três quartos.

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