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A troca dos relógios

[Crônica do dia 27 de janeiro de 1998]

No final do ano passado, ganhei um relógio de presente. Era um destes relógios cheios de ponteiros, que marcam várias horas, minutos, segundos e até frações de segundos, em mostradores menores e maiores que fazem do mostrador do relógio um verdadeiro jogo de xadrez, só compreensível para os iniciados.

Por conta da complexidade das marcações do dito cujo, eu levei dois dias para descobrir que um dos ponteiros, apesar de marcar alguma coisa, não marcava o que deveria marcar, o que acabava comprometendo o desempenho dos outros ponteiros, que também não marcavam certo porque um dos irmãos marcava errado.

Quando o problema foi detectado, eu fui até a relojoaria da garantia e mostrei o relógio para uma senhora muito simpática que, incontinente, e sem que eu pedisse, simplesmente me deu outro relógio igual, fazendo a troca num passe de mágica.

Impressionado com aquilo, saí da relojoaria radiante, com um relógio novo no braço e convencido que os meus problemas estavam resolvidos. Afinal era um relógio de marca boa e não havia razão plausível para voltar a me amolar com ele.

Acontece que nem sempre as coisas acontecem como deveriam acontecer. E com este relógio, estava escrito nas estrelas que a música tocaria mais tempo.
Foi entrar na água e o relógio que deveria ser a prova d’água ficar com o vidro opaco, cheio do precioso líquido que viabiliza a vida.

Tornei a voltar à relojoaria e de novo fui surpreendentemente bem tratado, com a diferença que a troca foi por outro modelo, porque o primeiro não tinha mais.
Com este, o problema foi um banho de chuveiro. Foi sair do banho e dez minutos depois lá estava o vidro embaçado. E ele também era a prova d’água!

Voltei para a relojoaria Carrilhão e mais uma vez – pasmem – eles trocaram o meu relógio, agora por um que ao que parece não tem problemas.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.