Cavalo arreado não passa duas vezes na sua frente
Antes era cedo, agora já é tarde. A hora é a hora. Antes da hora não resolve, depois da hora não tem o que fazer. Quem perde a hora perde o bonde, o trem, o metrô, o jogo de pôquer na casa do Alberto.
Tem quem tem tanto medo de perder a hora que faz fila na bilheteria dois dias antes de começar a vender os ingressos e o pior é que, quando abrem as vendas, está no banheiro e, quando volta, a bilheteria já fechou.
Tem quem acha que sempre dá tempo e que dá pra sair um pouco mais tarde, sem tanta pressa, porque não vai salvar o pai da forca, nem a mãe da fogueira. Isso é enredo de ópera e a vida real é muito diferente. Não afoba que vai dar tudo certo. Só que não dá. Atrasa cinco minutos e a porta fechou. Lá se foi o Enem, o concerto de Brahms, o baile funk.
Tudo tem sua hora e sua vez. Quem dizia era Augusto Matraga, que morreu na hora certa, nem antes, nem depois, e foi pro céu na sequência de Seu Joãozinho Bem-bem. História de Guimarães Rosa, que sabia das coisas e escreveu que “sapo não pula por boniteza, mas por precisão”.
Trânsito ruim, greve, piquete na beira da estrada, falta de atenção da autoridade que deveria monitorar o caso, o fato é que se atrasar, nos dias de hoje, é coisa de um segundo e aí dá tudo errado.
No Brasil, atrasar faz parte do ritual do poder. Os poderosos podem atrasar. A exceção são os médicos. Estes, tanto faz se são poderosos ou não, atrasam quase sempre. Quem tem consulta marcada que o diga.
Mas Deus é rigoroso com essas coisas. É ler a Bíblia para não se ter dúvida. E as passagens são didáticas. Ensinam como se deve preceder para obedecer a vontade divina que preza muito a pontualidade. Os alemães sabem disso, por isso, em Berlim você acerta o relógio no horário dos pontos dos ônibus. Aqui é menos rigoroso. O resultado é que nem tudo dá certo, porque Deus não coloca duas vezes cavalo arreado na sua frente.
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