Os pernilongos se divertem
[Crônica do dia 10 de fevereiro de 1997]
No mundo inteiro, ou pelo menos no chamado mundo desenvolvido, os mosquitos aparecem no verão. E aparecem como manda o figurino, em locais tão inesperados como o apartamento de hóspedes de uma grande seguradora, em Hannover, onde eu passei várias noites brigando com bichos mais cruéis do que os nossos pernilongos e, o que é pior, equipados com um fuim muito mais alucinante.
Como esta regra deveria valer também para o Brasil, apesar da certeza sobre o nosso grau de civilização andar um pouco abalada por demonstrações de selvageria como o apitaço do congresso ou as cenas patéticas e trágicas que pioram o trânsito de São Paulo, eu imaginei que o sumiço dos insetos nos meses de verão fora uma vitória da prefeitura, que apenas por modéstia da nova a administração não colocava no ar uma série de anúncios contando sobre o feito heroico, com a cara do general vitorioso sorrindo para as câmaras.
Infelizmente, mas infelizmente mesmo, não era. A verdade é outra e dói, ou melhor coça.
Nossos pernilongos estavam apenas se divertindo e aproveitando os meses de verão para viajarem para locais tão exóticos quanto Punta del Este e Bariloche.
agora, com a chegada do outono e a queda ainda que suave da temperatura, eles voltaram e reassumiram os seus postos de combate, cada um em sua estação de guerra, prontos para sugarem o nosso sangue, com uma eficiência que faria drácula ficar vermelho de vergonha.
Voando em formação cerrada, com movimentos que lembram a esquadrilha da fumaça em seus grandes dias, os pernilongos das margens do Pinheiros retomam os seus espaços com a sem cerimônia dos que se sabem indestrutíveis.
Suas hordas, armadas com apitos mais irritantes do que os dos deputados da oposição e protegidas por roupas de liga leve fabricadas na Coreia do Norte já começaram a invasão, entrando casa adentro, por todo o Alto de Pinheiros e no Butantan.
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