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A árvore branca

[Crônica do dia 29 de julho de 1999]

O Brasil é um país onde, de acordo com a tradição, neva pouco e mesmo assim, só em regiões muito especiais, localizadas bem ao sul do Trópico de Capricórnio.

Dentro desse desenho, São Paulo, por enquanto ainda não viu neve, pelo menos nos últimos 450 anos. E as fontes são confiáveis, porque todas elas acabam avalizadas pelos relatos dos jesuítas que, desde 1553 estão por aqui.
Foi por isso que no domingo passado fiquei impressionado com uma árvore que eu vi, perto da minha casa.

A árvore estava branca, como se tivesse sido alvo de uma nevasca muito forte, caída só sobre ela.

A árvore branca, vista da banca de coco verde do outro lado da praça Vicente Rodrigues, estava linda, contrastando com a cor escura da casa da minha vizinha D. Iolanda, que realçava ainda mais o branco das suas flores, aumentando a impressão de que São Paulo, pela primeira vez em sua história, estava descobrindo a beleza da neve.

A árvore branca fica bem em frente da casa da D. Iolanda e foi com certeza plantada por ela, que também é a responsável pela minha pitangueira de estimação e pela amoreira que em setembro costuma concorrer com as pitangas que eu como, depois dos meus passeios de bicicleta.

Foi por isso que eu, depois que descobri que o branco da árvore era a cor de suas flores, me convenci que a árvore branca estava homenageando uma pessoa maravilhosa, que merece a homenagem que a árvore estava fazendo.
Vizinho é que nem loteria. Não é todo dia que a gente ganha um bom. E a D. Iolanda é a melhor vizinha que alguém pode ter.

Mas, mais importante do que isso, pelo menos para árvore enfeitada de branco, a D. Iolanda, além de boa vizinha, foi também quem a plantou, e é quem cuida dela, e cuida bem, tanto que a árvore, num dia frio de inverno, está coberta pelas suas flores.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.