A Clotilde e os saguis
Apesar de não ser uma cachorra de caça – ela é uma boxer -, a Clotilde ficou relativamente conhecida entre as pombas e os sabiás pela competência com que atacava as aves que invadiam suas tigelas de comida e água e as matava, depois de dar um salto e as pegar com a boca, em pleno voo, tentando fugir da garagem.
Depois de matar a ave, a Clotilde vinha com o rabo balançando e a ave morta na boca, querendo dá-la de presente para mim.
Um belo dia, eu aprendi um jeito novo de espantar as aves e então a Clotilde ficou sem poder caçá-las porque não chegavam mais perto de suas tigelas.
O truque é simples. Pendurei velhos CD’s em volta do jardim e o reflexo da luz no disco emitia um clarão que espantava pombas e sabiás. O truque deu certo por um bom tempo, mas, finalmente, as aves descobriram que o clarão não lhes fazia mal e lentamente começaram a retornar para comer a ração e beber a água da Clotilde.
Não sei por que a Clotilde deixou de atacá-las, mas o fato é que, nos últimos tempos, ela corre atrás das aves, mas não dá o bote assassino, nem as pega em pleno voo. Ela corre, late e deixa a ave voar para longe.
Mas se ela parou de caçar aves, descobriu um novo alvo. É verdade que ela tem poucas chances de sucesso, mas como sem tentar a gente não sabe se consegue, a Clotilde quase que diariamente corre atrás dos saguis que passeiam pelas árvores e fios do pedaço.
Quando ela sai correndo e começa a latir, tenho certeza que os macaquinhos estão próximos, ou nos fios, ou nas árvores da rua plantadas perto do muro, ou mesmo dentro de casa, como aconteceu durante a safra das pitangas. Ela sabe que suas chances são mínimas, mas nem por isso desiste de correr atrás dos saguis. Quem sabe, um dia consegue.
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