O motoqueiro e o ciclista
Eu tinha acabado de sair do posto de gasolina e entrado na Rua Alvarenga, que estava completamente parada. Na minha frente, surpreendentemente, tinha um motoqueiro parado no meio da faixa e, do lado dele, na outra faixa, um carro pequeno, também esperando a enorme sucuri andar.
Foi aí que o motoqueiro resolveu ser motoqueiro e começou a sair da faixa para dirigir entre os carros e assim não ficar parado. Só que ele não olhou pra trás antes de embicar sua moto e fazer a manobra que arranca ou quebra centenas de espelhos retrovisores todos os dias.
Ele simplesmente virou o guidão da moto e acelerou para entrar na estreita faixa vazia entre o carro de cá e o carro de lá. Foi quando deu tudo errado. Sem ninguém perceber – eu, pelo menos, não tinha percebido – surge um ciclista no bem bom da vida, pedalando exatamente onde o motoqueiro queria entrar.
Deu no que deu. O motoqueiro bateu na bicicleta e jogou o ciclista de encontro ao espelho retrovisor do carro ao lado, que estava parado e não tinha nada com isso.
Motoqueiro e ciclista começaram a discutir, um dizendo que a culpa era do outro, porque nenhum dos dois achava que estava errado. Como Deus às vezes coloca sua mão embaixo da gente, o sinal abriu e o trânsito andou, obrigando os dois a saírem de onde estavam e se mexerem no ritmo da cobra começando a avançar.
O motorista recolocou o espelho retrovisor no lugar, aproveitou a brecha e tocou em frente. Eu acelerei, porque o trânsito, como um todo ao longo da Rua Alvarenga, também andou e deixei os dois para trás, cada um de um lado da rua, se xingando como se algum deles estivesse certo. O mais fascinante é isto: os dois achavam que estavam certos.
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