Pelé na Alemanha Ocidental

Faz tempo que não tem mais. A unificação alemã aconteceu logo depois da queda do Muro de Berlim, em 1989. Mas antes tinha, tinha a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã. A Alemanha Ocidental, democrata, e a Alemanha Oriental, comunista, e, para separar uma da outra, os comunistas ergueram o Muro de Berlim, que era muito mais do que o Muro de Berlim e cercava o país inteiro, impedindo que os alemães orientais pudessem ingressar na Alemanha Federal.

Pode parecer incrível, mas eu tinha um amigo exilado político em Berlim Ocidental que dizia que era o contrário, que o muro era para os alemães ocidentais não se mudarem para outro lado, apesar deles poderem ir de metrô quando quisessem.

Em 1978, eu fui fazer pós-graduação na Alemanha Ocidental. O programa começava em Berlim Ocidental e depois eu iria para Hamburgo.

Foi na viagem de mudança para Hamburgo que eu tive uma das experiências mais fantásticas da minha vida. Para ir para Hamburgo eu deveria sair de Berlim pela autoestrada para Hannover. Era uma experiência assustadora. Você chegava na fronteira entre as duas Alemanhas e descobria que era mais complicado do que parecia.

Na fronteira oriental você entregava seu passaporte, ele sumia, enquanto isso revistavam seu carro, ele reaparecia e era entregue de volta bem mais na frente.

Normalmente, os guardas não conversavam, apenas exigiam o passaporte, ordenavam que abrisse o porta-malas, o capô, etc. Essa vez foi diferente. Quando o policial viu meu passaporte brasileiro, começou a falar em português, me disse que adorava futebol, era fã do Pelé, o maior jogador da história, e que, por isso, cursava Língua Portuguesa na universidade. Foi a única vez que eu ouvi um policial alemão falar nossa língua.

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