A volta dos verdadeiros heróis
[Crônica do dia 9 de setembro de 1997]
Quando tudo parecia perdido e o caos ameaçava tomar contas das ruas de São Paulo, eis que, num ato de enorme lucidez, a alta direção da CET decidiu chamar em seu socorro os únicos heróis capazes de colocar alguma ordem na tragédia em que se transformaram nossas ruas.
Com a companhia meio ressabiada, como se estivesse com vergonha, a chegada dos superagentes vai sendo camuflada, como se eles não estivessem nas ruas para enfrentar a desordem, mas apenas para alertar os motoristas sobre as desvantagens evidentes de fechar os cruzamentos.
Só a longa prática dos problemas metropolitanos permite-nos afirmar categoricamente que eles estão nas ruas para combater a bagunça, muito mais do que simplesmente orientar os motoristas.
Todos primos próximos do primeiro e insubstituível Ricardão, que hoje goza de merecido repouso, ao lado da estátua da mulher nua que roubaram da Praça da República, vivendo de sua aposentadoria de marajá, num loteamento clandestino na Serra da Cantareira, os heróis trazidos pela municipalidade já chegam treinados nas mais recentes modalidades de lutas, orientais, ocidentais e mistas, para, envergando o glorioso uniforme marrom dos agentes de trânsito da cidade de São Paulo, reorganizarem o caos e, transforma-lo, como diria o grande professor Goffredo da Silva Telles, “numa ordem que nos convém”.
Suas exigências foram pesadas, mas a certeza do seu bom desempenho e de que as ruas serão em breve, novamente transitáveis, compensa os custos, que, no fim, nem foram tão altos assim, porque os gastos com alimentação foram minimizados pela paixão que os Ricardões têm por sobrecoxas e asas de frango.
De uniformes novos, com um camareiro pronto para ajuda-los a se trocar todas as vezes que o marrom da farda for maculado por qualquer outro marrom, os ricardões estão em São Paulo para vencer ou vencer… em nome da ordem.
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