Soma

[Crônica do dia 17 de março de 2006]

De repente a rua Guilherme Milward mudou de cor, se enfeitou, ficou clara, alegre, feliz. Rua de bairro residencial, ela é uma rua tranquila, perdida nas quebradas do Butantã, o que a faz quase sempre uma rua gostosa, onde a vida corre mansa, parecida com o ritmo das ruas das cidades do interior.

De repente, ela ficou mais alegre, e mais feliz, como diria minha filha, porque seu céu ficou mais roxo, mais rosa, mais colorido, pelas flores das azaleias que abriram com força, explodindo sua vida como contraponto para os muros cada vez mais altos que tomam de assalto os bairros residenciais.

Ao mesmo tempo, quem chega no final do muro do Cemitério São Paulo, pouco antes de virar à esquerda para entrar na rua Ásia e depois pegar a rua Lisboa, se deslumbra com o rosa intenso que sai do meio de uma manhã de verde, mostrando uma paineira tão bela quanto as quaresmeiras da rua Guilherme Milward.

Para alguém não afeto às neuroses e manhas das árvores paulistanas, poderia parecer que as plantas estariam concorrendo entre si, pelo título de árvore mais bonita da cidade. E na maioria das vezes essa ideia estaria correta.

Só que desta vez não está. As árvores não estão concorrendo, estão fazendo sua homenagem toda especial para as mulheres em geral, mas mais especial ainda para mulher que trabalha, que sai de casa cedo e volta tarde, que aguenta o tranco, dando duro nas fábricas e lojas da vida, nos escritórios, nos campos.

As árvores, com suas flores, estão homenageando a beleza da luta da mulher por um mundo mais digno – e essa luta vai além do 8 de março.

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