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20 mil garimpeiros

Ninguém discute, a situação dos Yanomami, em Roraima, é vergonhosa, para dizer o mínimo. Todo brasileiro, vendo as cenas apavorantes dos indígenas morrendo à míngua e ouvindo as informações do que eles estão passando, sem alimentos, sem medicamento, sem assistência, obrigatoriamente tem que sentir vergonha e se indignar com o quadro.

Mas a coisa é mais complicada do que parece. Sem tirar a culpa do governo passado pelo agravamento da situação, nem de qualquer forma tentar defendê-lo, vale lembrar que os Yanomami são alvo de abandono e maus-tratos desde a década de 1970.

O quadro se agravou ainda mais? Sem dúvida, as provas são neste sentido, mas como era antes do que está sendo mostrado agora? Será que eles tinham o paraíso na terra? Não, não tinham e pouca gente se preocupava com eles.

Ainda bem que agora começaram a se preocupar, mas essa preocupação precisa ir além da política e do “pra inglês ver”. Tem que ser uma obra para resolver o problema definitivamente e dar dignidade aos Yanomami, porque são seres humanos, são brasileiros como você e eu.

O problema é que resolver o problema da forma que estão fazendo vai gerar um outro problema, pelo menos tão sério quanto a realidade apavorante dos indígenas à beira da morte.

A região está ocupada por vinte mil garimpeiros. É mais do que a população de vários municípios. Expulsá-los, sem ter um plano para realocá-los e inseri-los na sociedade, só vai agravar o quadro, até porque, por necessidade, eles invadirão outras reservas e seguirão suas vidas, no ritmo visto na terra Yanomami. Não basta expulsá-los. Essa é a parte fácil. O complicado é dar a eles condições de vida para não dependerem do crime organizado e não fazerem mais o que fazem, da forma que fazem.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.