O tempo e a mudança
[Crônica do dia 20 de março de 1998]
Não é a primeira vez que falo sobre a avenida da Consolação e as suas lojas de lustres.
Uma ao lado da outra, ao longo da rua, elas são lindas e criam um cenário único, que, no passado, já foi mais bonito, porque ficavam com suas vitrines iluminadas de noite, protegidas por um simples vidro, ou quando muito uma grade daquelas de descer.
Hoje, passar pela avenida da Consolação de noite não tem nada de mais. Suas lojas estão fechadas e protegidas por grossas portas de ferro, que impedem quem passa de ver o que tem dentro.
Passear pela avenida da Consolação, de noite, era um dos programas obrigatórios de Carlos de Lacerda quando vinha para São Paulo.
Ao ver as lojas com as vitrines acesas e iluminadas por lustres de todos os tipos e tamanhos, o grande político se esquecia das mazelas do Brasil e ficava quase que extasiado apenas olhando, deslumbrado pelas luzes.
Para ele existiam poucos lugares iguais no mundo
O duro é que, passados vinte anos, existem menos ainda, porque a avenida da Consolação já não brilha de noite, nem tem seus lustres acesos, enfeitando suas vitrines.
São dois retratos diferentes de duas épocas diferentes.
Quando Carlos de Lacerda vinha para São Paulo, mesmo perto de sua morte, ainda era possível andar a pé, de noite, pelas ruas da cidade.
Claro que já havia pontos perigosos, mas eram localizados e todo mundo sabia onde ficavam.
Hoje, os pontos perigosos são todas as esquinas da metrópole. E nem mesmo as delegacias de polícia, que, teoricamente, deveriam ser os locais mais seguros, estão livres de assaltos e invasões.
É por conta disto que, confesso, às vezes dá saudade da época em que os lustres ficavam acesos.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.