A tarantela
[Crônica do dia 12 de janeiro de 1998]
A festa estava linda. Era uma bodas de ouro e corria animada como poucas festas a que tenho ido. Apesar de não conhecer muita gente, formamos um grupo de poucos amigos e nos sentamos numa mesa única, de onde podíamos ver a festa e conversar, bebendo bem e comendo melhor ainda.
Entre as atrações da noite, a festa era animada por um conjunto muito animado, que supria a sua falta de um talento maior pela batida constantemente alegre, que não deixava a noite parar, nem mesmo durante o jantar.
Por conta desta animação, entre um prato e outro, os convidados não hesitavam, dançavam mesmo. E dançavam todos os tipos de música, até aquela hora feitas para se dançar junto.
Foi aí que um amigo e sua mulher se levantaram decididos a aproveitar o intervalo entre os pratos para uma dançadinha rápida.
Muito animados, os dois foram em direção à pista, de mãos dadas, com ela à frente, já no ritmo da música que tocava indolente, convidando para dançar junto.
Mas… existe sempre um mas para interromper os momentos mais belos, ou os que poderiam vir a sê-lo. Mal chegaram, a banda mudou a música. No lugar do antigo sucesso de Frank Sinatra, começou a tocar uma tarantela que rapidamente lotou a pista com dezenas de dançarinos um mais animado do que o outro.
Meu amigo parou, ameaçou voltar, mas não voltou. Sua mulher simplesmente tocou em frente e entrou na pista de braços erguidos dançando tarantela, como se nunca tivesse dançado outra música em toda a sua vida.
Ele não teve escolha. Acabrunhado, ergueu os braços curtos e tentou entrar no ritmo da dança, enquanto nós, sentados na mesa, dávamos gargalhada vendo-o de costas, balançando desengonçado o corpo e os braços.
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