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A tarantela

[Crônica do dia 12 de janeiro de 1998]

A festa estava linda. Era uma bodas de ouro e corria animada como poucas festas a que tenho ido. Apesar de não conhecer muita gente, formamos um grupo de poucos amigos e nos sentamos numa mesa única, de onde podíamos ver a festa e conversar, bebendo bem e comendo melhor ainda.

Entre as atrações da noite, a festa era animada por um conjunto muito animado, que supria a sua falta de um talento maior pela batida constantemente alegre, que não deixava a noite parar, nem mesmo durante o jantar.

Por conta desta animação, entre um prato e outro, os convidados não hesitavam, dançavam mesmo. E dançavam todos os tipos de música, até aquela hora feitas para se dançar junto.

Foi aí que um amigo e sua mulher se levantaram decididos a aproveitar o intervalo entre os pratos para uma dançadinha rápida.

Muito animados, os dois foram em direção à pista, de mãos dadas, com ela à frente, já no ritmo da música que tocava indolente, convidando para dançar junto.

Mas… existe sempre um mas para interromper os momentos mais belos, ou os que poderiam vir a sê-lo. Mal chegaram, a banda mudou a música. No lugar do antigo sucesso de Frank Sinatra, começou a tocar uma tarantela que rapidamente lotou a pista com dezenas de dançarinos um mais animado do que o outro.

Meu amigo parou, ameaçou voltar, mas não voltou. Sua mulher simplesmente tocou em frente e entrou na pista de braços erguidos dançando tarantela, como se nunca tivesse dançado outra música em toda a sua vida.

Ele não teve escolha. Acabrunhado, ergueu os braços curtos e tentou entrar no ritmo da dança, enquanto nós, sentados na mesa, dávamos gargalhada vendo-o de costas, balançando desengonçado o corpo e os braços.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.