A falta de limite da barbárie
O que leva um grupo de imbecis a jogar uma estátua de Brecheret da sua alta base para o chão?
O Largo do Arouche poderia ser um dos lugares mais bonitos da cidade. Ele e seu entorno tem um ar de cidade europeia, que se junta com a Praça da República, com o maravilhoso prédio da Secretaria da Educação fechando o jardim. Do outro lado, o Centro Novo e suas obras de arte arquitetônicas, começando pelo icônico Edifício Esther, cortam a vista, tapando o Centro Velho de quem está na Praça da República.
Essa região teve seus dias de glória. Eu me lembro de quando a Rua do Arouche, não faz tanto tempo, teve algumas das lojas mais finas da cidade e a avenida São Luiz, prédios com apartamentos deslumbrantes.
Hoje, a decadência é a marca registrada. As ruas sujas, maltratadas, com drogados deitados nas calçadas debaixo das marquises dos prédios não lembram nem de longe a época em que as lojas, agora com as portas fechadas e as paredes pichadas, eram das mais finas de São Paulo.
É feio e é triste andar pelo Largo do Arouche. Dos bustos dos acadêmicos da Academia Paulista de Letras sobrou um. Ninguém entende por que ele não foi furtado, como todos os outros. E sobrou a maravilhosa obra de arte “Depois do Banho”, do genial Brecheret.
Deitada em sua base, a grande estátua da mulher nua enfeita o Largo, tentando resgatar um pouco da civilização que se perdeu na sujeira e na decadência.
Decadência chama vandalismo e é isso que impera na região. O vandalismo mais estúpido e sem sentido, que, aliás, se espalha por outros pedaços da cidade, em estátuas pichadas, paredes pichadas, muros urinados e fezes pelas calçadas. Eu sei que o problema não é brasileiro. Mas ver a barbárie vencer é de cortar o coração.
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