Um ato de amor

No final do livro, Cirano de Bergerac declama: O que vocês dizem, é impossível? Eu o sei, mas não me bato na esperança da vitória, por isso é mais belo. Eu me bato, eu me bato, eu me bato!

A luta de Cirano pode ser comparada ao ato de doar sangue. Doar sangue é um ato de amor, de entrega sem recompensa ou troco. É a mais pura forma de amar o próximo, até porque você invariavelmente não sabe quem é o próximo e, no entanto, entrega a ele o que você tem de mais precioso, o sangue que corre em suas veias e te mantém vivo e te faz ser.

Doar sangue é o amor incondicional. O amor que se dá porque se dá e não espera reconhecimento pela entrega. É ser completamente, viver intensamente a realidade mágica do pão dividido pelo Cristo e entregue a cada um dos apóstolos.

É a redenção da sua vida pela remissão dos pecados no sangue que enche a bolsa acionada pela máquina através de uma agulha enfiada na sua carne.

Mas não há sofrimento. Doar sangue não dói. Ao contrário, à medida que o tempo passa e você bomba insistentemente abrindo e fechando a mão, vem uma sensação de bem estar, forjada na comunhão entre seu sangue e a necessidade desesperada de alguém que você não sabe quem é receber a doação, numa transfusão anônima, onde seu nome não aparece e o receptador não vai saber nunca que foi você, num gesto de ternura, num gesto de puro amor, quem salvou sua vida.

Não haverá jamais um muito obrigado pessoal, ele não apertará sua mão, nem lhe dará um presente como agradecimento.

Não, sua paga será estar vivo, seguir vivo porque alguém doou o sangue que foi utilizado na transfusão que salvou sua vida.

Doe sangue, não dói e salva vidas.

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