Cadê seu Luiz?

Faz tempo que eu pergunto: Cadê o Seu Luiz? Desde o fim do retiro forçado imposto pela pandemia e minha volta presencial às sessões da Academia Paulista de Letras eu pergunto cadê o Seu Luiz. E ninguém sabe me responder, ninguém sabe cadê o Seu Luiz.

Tem os mais antigos no pedaço que se lembram dele, mas faz tempo que não o veem, nem têm qualquer notícia sobre ele. É como se o Seu Luiz simplesmente tivesse desaparecido sem deixar rastros. Sumido no ar, como se um disco voador tivesse sobrevoado o Largo do Arouche e abduzido Seu Luiz e o levado para outra galáxia para engraxar as botas do imperador.

Seu Luiz foi meu engraxate durante muitos anos. Nas quintas feiras, antes de começar as sessões da Academia Paulista de Letras, eu me sentava em sua cadeira, na esquina do Largo do Arouche com a Avenida Vieira de Carvalho, e tinha uma longa aula de vida, enquanto ele engraxava meus sapatos, sem pressa nenhuma, muito mais interessado no papo do que no brilho do couro.

Seu Luiz tinha histórias fascinantes. Ninguém conhecia o Largo do Arouche e seus entornos como ele. Então, de vez em quando, ele me mostrava uma pessoa perto e dizia: Tá vendo aquele ali? E começava uma longa história a respeito dela, com final feliz e outros nem tanto, mas sempre com alguma passagem inusitada e, num certo sentido, edificante.

Seu Luiz tinha freguesia certa. Começando pelos delegados da delegacia próxima, passando por várias personalidades, a maioria aposentada, e amigos e conhecidos meus, com quem eu conversava sobre ele e seu jeito de ser.

Seu Luiz sumiu. Desde depois da pandemia que eu nunca mais o vi. Não sei se está morto ou se está vivo e resolveu se mudar para Santos. Só sei que ele faz falta.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.