Ajudar o próximo pode ser perigoso
No Brasil, o sucesso é pecado, crime ou a soma dos dois anteriores. É feio dar certo, ter talento, ser bem-sucedido. É alguém elogiar alguém para imediatamente surgirem vozes levantando dúvidas e fazendo acusações as mais pesadas a respeito de gente que elas nunca viram, sabem quem é ou sequer o nome inteiro.
É assim porque é assim. No mundo, a inveja mata, mas aqui, antes de matar, destrói a vida e a honra de uma pessoa. É um absurdo, mas invariavelmente é assim. E a coisa se agravou muito com a chegada das redes sociais. O que se vê publicado nelas é apavorante, para dizer o mínimo. Não são apenas casos de difamação gratuita, de inveja do sucesso alheio. São maldades feitas deliberadamente contra quem não fez nada para merecer o ataque. Namoradas com fotos expostas, amigos mostrados em cenas íntimas, montagens etc.
Eu tenho uma história contada há muitos anos por um amigo já falecido que mostra bem isso. Como os personagens já morreram não vou citar seus nomes.
Meu amigo estava em companhia de um grande político brasileiro, coisa rara, mas que já existiu, num voo de Salvador para o Rio. Vinham tranquilos, batendo papo, quando ouviram o cidadão sentado na cadeira atrás deles se exaltar e falar alto com seu companheiro de fila.
O discurso furioso atacava o político com quem meu amigo viajava e, na parte mais leve das acusações, dizia que ele era um bandido, que não valia nada, que era um ladrão e daí pra fora.
Quando o avião pousou, o grande homem se colocou na porta para ver quem era o passageiro que o xingava com tanta veemência. O cidadão passou por ele, olhou, mas não o reconheceu e desceu as escadas. Então o político disse para o meu amigo:
– As coisas estão feias. Este eu não sei quem é, nem nunca ajudei.
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