Carta
[Crônica de 7 de outubro de 1998]
Faz tempo que não lhe escrevo, mas as mudanças não são tão grandes que você não reconheça a casa, ou o lugar.
Tirando um comitê eleitoral montado no prédio da esquina, que serviu para a pitangueira da rua fazer greve e adiar a chegada das pitangas maduras, não aconteceu nada de tão diferente, algo que pudesse modificar o rumo da vida, ou as o ritmo do dia.
Se tem alguma coisa que merece ser contada, porque você ainda não sabe, é a chegada do Joca.
Você já conhece o Milho Verde e o Mané. O nosso weimaroxer vai muito bem obrigado, cada dia mais alucinado e mais amigo, com seu olhar quase humano e seu jeito de garotão irresponsável, destruindo parte do jardim da Zequinha, que, aliás, ele acha que é dele.
Já o Mané continua sendo único canário com preguiça de cantar do mundo.
Ainda não ficou muito claro o que aconteceu quando ele foi cruzar com a canária do Cido, mas, daí para a frente, ele nunca mais cantou direito, limitando-se a uns trinados sem sequência, como se cantar lhe doesse na garganta, ou fosse uma atividade muito chata.
Quem sabe com o Joca ao seu lado, cantando o dia inteiro, ele mude de opinião e comece fazer o que a gente espera que um canário faça, ou seja, cantar.
O Joca é o mais recente morador da casa. É um passarinho novo, que chegou aqui depois de uma negociação complicada, com pitanga apanhada no pé, entre o Jorge, que é o guarda da rua e eu.
É um bicho muito simpático e alegre, que canta o dia inteiro, como diz a Xica, esticando o pescoço, para o canto ir mais longe.
O nome foi dado pela Marina e pela Xica juntas, de comum acordo, depois de analisarem alternativas como Cuca, e outras que tais.
Bom por enquanto é isso. Acontecendo alguma coisa que mereça notícia, volto a escrever.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.