O tiro saiu pela culatra
[Crônica de 18 de fevereiro de 1997]
Não havia jeito, fizesse ela o que fizesse, ele positivamente não se encantava, não achava graça, nem sequer olhava, diminuindo-lhe sobremaneira o ego, e, mais importante ainda, deixando-a na mão, já que ela o amava e, viver sem ele, era o purgatório na terra.
Já tinha tentado o seu repertório inteiro. Anos e anos de prática, uma verdadeira especialista com pós-graduação em sedução, tinham-se mostrado insuficientes. Independentemente do que ela fizesse, ele simplesmente não olhava para ela, e ela tinha feito quase tudo.
Com chuva ou com sol, de noite ou de dia, vestida ou seminua, parecia que nada o interessava. Ele não prestava atenção nela, nem em suas ousadias.
Uma amiga – todo mundo sabe como as amigas são importantes nestas horas – chegou a sugeri-lhe que mudasse a tática e substituísse a ousadia pela discrição. O resultado foi ótimo… para a amiga, que saiu com ele por um bom tempo, antes que ela pudesse reagir.
Reação que, diga-se de passagem, não foi além das lágrimas incontroláveis de um acesso de choro e de meia dúzia de palavrões pensados, mas não repetidos, para a ex-amiga fiel.
Completamente desanimada, conversando sobre o tema com um amigo antigo, ouviu dele a importância das promessas, e de como a graça pode ser alcançada mediante um pequeno sacrifício, que pode aumentar em função da dificuldade do santo em atender o pedido.
Disposta a tudo, cedeu! fez promessa! iria frequentar a faculdade de jornalismo se o amado ficasse com ela.
E foi como nas estórias da carochinha: mal a promessa foi formulada, na festa seguinte ele se aproximou e pouco tempo depois estavam juntos.
Só que… estavam, porque já não estão mais. A frequência diária da faculdade acabou com tudo, já que ele não aceitou vê-la apenas nos finais de semana, trocado pelas aulas que ela deveria assistir.
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