Dona Jupira

Tem lembranças que ficam. Não há um fato específico, mas, de repente, sessenta anos depois, puxadas dos escaninhos da memória, elas voltam, claras como as fotografias que eu tenho guardadas no armário.

Quando acabei de ler a crônica de meu amigo Gabriel Chalita, escrevi para ele que me lembrava de minha professora do curso primário, uma senhora baixa, encorpada, sempre com um coque prendendo os cabelos e invariavelmente usando um vestido escuro ou estampado com flores.

Dona Jupira, sem que acontecesse nenhum fato especial durante o tempo que foi minha professora no curso primário do Colégio Dante Alighieri, segue viva na minha lembrança. Até hoje fecho os olhos e sua figura amiga aparece, normalmente junto com a classe, num dos pátios do colégio, ao lado do prédio velho, na frente da entrada dos ônibus.

Era nesse pátio que todos os anos os alunos tiravam a fotografia clássica, a classe reunida, disposta em fileiras com os mais baixos na frente, e outra com o aluno sozinho, sentado na carteira, segurando um lápis, com o mapa mundi no fundo.

Como as coincidências nunca vêm só, depois de ler a crônica do Chalita e me lembrar de Dona Jupira, caiu a ficha que, por artes de um amigo comum, o Renato Tavares, que também estudou no Dante, eu iria almoçar com meu amigo e colega de Dante Alighieri, Mário Eugênio Frugiuele.

Daí pra frente foi uma viagem no tempo e o resgate de muitas lembranças, de muitas histórias e aventuras acontecidas quando São Paulo era outra cidade. E, com elas, o desfile de tantas caras amigas, de tantos nomes que foram parte do meu dia a dia por anos a fio. Colegas, amigos, amigas, professores, diretores, vigilantes, até chegar na Ordem do Sino, que eu recebi no centenário do Colégio.

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