O funil da vida

[Crônica de 8 de setembro de 2010]

O encontro das ruas Inácio Pereira da Rocha e Luís Murat é a prova viva de que o mundo acaba num enorme funil que vai devorando o cosmos e jogando os restos no fundo de um enorme garrafão, não sei se de vidro ou de plástico.

Uma vem de um lado, a outra também desce ladeira abaixo, do outro, para se juntarem, sob o olhar severo de Horácio Lane, bem perto do Cemitério São Paulo. 

E aí o mundo aparece como o mundo é. Não há bondade, há ocasião. A bondade é sentimento humano. Coisa completamente diferente e fora de contexto na fatalidade cósmica que costura o universo desde a explosão do Big Bang.

Não há alternativa. Não há solução, exceto um buraco negro engolir o pedaço e redesenhar a vida, num caminho novo, ainda inexistente, que evite o gargalo, ou desfaça o funil.

Para completar tudo, existe um semáforo que complica ainda mais o que já nasceu complicado.

Nada que não se veja na evolução dos astros, na expansão do cosmos puxada pela corrida dos cometas que desbravam os limites do desconhecido, sempre atrás de mais espaço.

Carros vêm, carros vão. Mas, sistematicamente, nada anda, porque o gargalo espreme as possibilidades e deixa apenas o livre arbítrio como alternativa.

Um deixa o outro passar, o outro não deixa. Um quer entrar à esquerda e fecha o meio da rua. Outro não quer que ele entre e força a barra, fechando o outro lado para também entrar à esquerda. O ponto é um laboratório em ação. E mostra como viver é complicado.

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