Um dia negro
[Crônica de 20 de setembro de 2001]
A humanidade não vai poder apagar das páginas da sua história, nem com a passagem dos séculos, o dia 11 de setembro de 2001.
Nele a boçalidade, a falta de sentido, a proximidade com as bestas feras, fizeram a raça humana escrava dos mesmos instintos que conduziam os primeiros primatas pelos campos da África.
Não sei o que leva o homem, cada vez que se aproxima da possibilidade da felicidade, a estragar tudo e jogar a esperança para cima, retornando ao velho vale de lágrimas, onde só Nossa Senhora tem paciência para nos aturar.
O atentado contra os Estados Unidos ultrapassou o último limite da imaginação, entrando de forma brutal na realidade do mundo, como se todos os filmes de violência e terrorismo houvessem sido misturados para criar uma única história de sofrimento e vergonha, capaz de estarrecer o ser humano, mas em vez de melhorá-lo pela dor e pelo sofrimento, jogá-lo numa noite sem sentido, onde o mais feio do mais feio e dá muito feia história da espécie sobre a terra se transformasse num sonho cor de rosa, comparado ao absurdo do que aconteceu.
O depois, agora, é irrelevante, como é irrelevante o que aconteceu antes. O dia 11 de setembro de 2001 é um divisor de águas, uma nova etapa da bestialidade, adormecida em grande escala desde o fim da segunda guerra mundial, circunscrita a poucos locais, onde o homem ainda podia mostrar o que tem de pior e de mais selvagem.
Quadros que deveriam servir de contraponto para reflexões profundas sobre a necessidade do sofrimento num mundo cada vez mais próximo da imortalidade.
Até agora eu estou completamente chocado. Não por ter sido nos Estados Unidos, mas porque aconteceu e porque a morte de milhares de pessoas é o resultado lógico de uma lógica estúpida que não acrescenta nada a ninguém, e onde, no final, todos são perdedores. Nunca a lição da torre de Babel esteve tão viva como agora.
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