Viver e sonhar
Tem gente que prefere viver, tem gente que prefere sonhar. Tem gente que prefere viver os sonhos e tem gente que prefere sonhar a vida. Eu gosto de sonhar, mas prefiro viver.
Sentir o ar da manhã passar pelo corpo enquanto faço minha caminhada diária. Ver os quero-queros nos gramados, os sabiás nas árvores e, com sorte, um tucano ou um pica-pau cuidando da vida.
Gosto do ritmo da cidade, da balbúrdia dos ruídos e – por que não? – gosto até do trânsito ensandecido que depois me deixa irritado. Gosto de ver a vida acontecer em volta, ver as pessoas nas calçadas, os trens de metrô com os passageiros sentados uns ao lado dos outros, seguindo para destinos conhecidos só deles, como se a bem-aventurança se escondesse lá e não fosse permitido contar para ninguém.
Cada um sabe de si, cada um se fecha em seu silêncio, com o fone de ouvido escondendo a angústia de não saber como se vive. Nem como se comunica. Gosto da cara de espanto das pessoas cumprimentadas pelo “bom dia”, dito por alguém que elas não conhecem e que provavelmente não verão de novo.
Gosto de ver a vida fluindo em volta, do camelô com seu refrão único, oferecendo produtos que ninguém sabe a origem. Do sorveteiro com seu carrinho, cada vez mais raro, mas ainda presente na paisagem urbana.
Do “plaqueiro” caminhando pelas ruas sujas e quase vazias do Centro. “Compro ouro” e outros avisos muito importantes para a felicidade das pessoas. Hoje ninguém mais se lembra da “abreugrafia”, mas já teve tempo em que, sem ela, não se conseguia trabalho com carteira assinada.
Gosto da vida e de estar vivo. Gosto de saber que cada dia é diferente, que cada hora é única e que cabe a nós aproveitar os momentos e buscar a felicidade. Da mesma forma que cabe a nós manter os sonhos vivos.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.