Tanto mar na praia azul
[Crônica de 24 de dezembro de 2013]
Tanto mar na praia azul. Tanto mar, tanta onda e tanta vida. O dia claro plasma na areia a estrada que entra no mar.
Meu caminho não acaba. Ele entra no mar e segue a rota das arraias gigantes, abrindo um sulco de luz na água escura da meia noite.
Os peixes grandes caçam de noite. Por isso é perigoso nadar. No escuro, as grandes formas se movem feito torpedos silenciosos e atacam com a rapidez dos falcões se atirando sobre as pombas.
Tanto mar, o Atlântico é largo e profundo e muda de cor de pedaço pra pedaço. Caravelas marcaram as rotas por onde velas brancas empurraram os barcos.
Eu não sei nada das rotas. Meu rumo é a bússola do luar. Cabo da Roca, o último ponto na Europa, olha de viés para Santo Agostinho invadindo a água nas costas brasileiras.
Tanto mar, tanto mar. Do lado de cá, tanta mata e onças que se escondem nas clareiras, mas se revelam na luz do dia batendo na pele camuflada.
É preciso olhos de índio. A mata esconde segredos. O ouro brilha na água dos riachos que correm entre arbustos e musgo, com cheiro de terra molhada. E os diamantes refletem o sol na pele queimada.
Tanta mata e tanto sonho. Tanta vontade de seguir em frente, de abrir em frente, de arar a terra e semear vida.
Repartir a eternidade entre o ontem sem tempo e a falta de tempo depois de amanhã. Tudo é uma coisa só e, no meio dela, a luz dos olhos da onça, que assombra todos os sonhos.
A cidade grande não tem onças. Não tem matas, não tem riachos. A cidade grande é fria e dura, por isso eu quero tanto – todo o mar!
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