E o Vento Levou
[Crônica de 20 de janeiro de 2010]
A primeira vez que assisti “E o Vento Levou” foi num cinema do centro velho, lá se vão muitos anos. Meu tio Paulo Mendonça levou as filhas e os sobrinhos para sermos iniciados no grande clássico das telas. No filme que o marcara fortemente, ao ponto de o “tema de Tara” ser uma das músicas obrigatórias em seu repertório, quando ele tocava piano nos finais de tarde da fazenda.
O filme me hipnotizou. Por conta disso, ao longo da vida, o assisti várias vezes, sem nunca me cansar. Mas fazia tampo que eu não fazia isso. Aliás, fazia tempo que eu não pensava em “E O Vento Levou”, nem na sua música maravilhosa, composta por Max Stein.
Outro dia, zapeando a TV, dei com o filme num dos canais a cabo especializados em filmes antigos.
Estava na abertura. Nas cenas da fazenda no final do dia, com a sede, o parque e os algodoais passando lentamente, enquanto o “Tema de Tara” crescia grandioso, abrindo o pôr do sol e fechando a cena em que, olhando os campos plantados até o horizonte, Gerald O’Hara diz pra filha, Scarlett: “Terra é a única coisa que fica”.
Fiquei de novo arrepiado. Minha vida passou de frente para trás, até me ver na fazenda, escutando meu tio tocar piano.
Assistindo o filme, com sua nostalgia de um mundo que havia acabado e os desafios da reconstrução, comparei o sul dos Estados Unidos com o que aconteceu no Brasil, nos últimos 50 anos.
O país das fazendas e dos engenhos também deu lugar a outra civilização, acelerada, baseada na indústria e no comércio, atendida por uma eficiente rede de serviços. As fazendas se modernizaram, a produção hoje, é em escala industrial… enquanto a poesia foi guardada nos sonhos.
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