O resgate do Brahma
[Crônica de 18 de janeiro de 2000]
Terça-feira passada São Paulo recebeu de volta um de seus marcos. Marco da maior importância em todos os sentidos, porque foi, durante décadas, um pedaço da alma da cidade, não tendo quem, com mais de 35 anos, não tenha pelo menos ouvido falar ou ido ainda que uma única vez, conhecer seu salão de pé direito alto, decorado com esmero, num estilo bem típico.
O bar Brahma foi ao longo de pelo menos três décadas um dos redutos da boemia paulistana. Lugar de encontro de gente famosa, frequentado por ilustres anônimos e até por meninos que nos anos sessenta procuravam a companhia das “primas” nas avenidas Rio Branco e São João, o restaurante, que também tinha um bar muito simpático, fazia um dos bons filés parmegiana de São Paulo.
Além disso, seu chope era famoso e tirado com carinho por garçons que já faziam parte do ativo imobilizado do pedaço.
Mas se o Brahma era gostoso de noite, era também uma delícia de dia, na hora do almoço, invariavelmente acompanhado por um conjunto que com o tempo foi ficando mais velho e mais velho, sempre tocando músicas antigas, a maioria hinos de uma boemia que as mudanças da cidade se encarregaram de enterrar, mas que até hoje sobrevive nas lendas da noite, e em meia dúzia de gatos pingados que se recusa a entregar os pontos.
É esse Brahma que renasce das cinzas, restaurado, com sua decoração original preservada, com suas altas paredes pintadas com cores quentes e com o mesmo charme de anos atrás.
Na inauguração foi impossível ir além do que escrevi acima. Tinha tanta gente que não sobrava espaço nem para uma cotovelada se alguém desse um empurrão mais forte.
O jeito vai ser voltar lá, em dia normal, com conta paga, para ver o que aconteceu com a cozinha e com o chope. Mas desde já, eu torço para continuarem muito bons.
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