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Perdidas pelas avenidas

[Crônica de 12 de novembro de 1997]

Entre as muitas qualidades indispensáveis para um advogado ser um bom profissional e obter sucesso na atividade – graças a Deus – não está incluído o senso de direção. Que o digam a Ana Paula e a Alexandra, depois de saírem do Tatuapé.

Para elas, a avenida das Juntas Provisórias vai de algum lugar para outro lugar, enorme, nova e larga, para atingir um ponto que ninguém sabe onde fica, mas que foi alcançado via uma série de outras vias, túneis, e elevados, fazendo-as cruzar São Paulo absolutamente perdidas.

Se o Norte fica na mesma direção que o Sul, andar pela cidade é fácil! A complicação nasce ao ter-se que atravessá-la no sentido Leste/Oeste, porque aí as rotas são opostas e não dá para saber onde se está, por mais boa vontade que o ricardão da esquina tenha; ou o motorista da Saveiro, que ao vê-las chegando e emparelhando com ele, ficou quase alucinado, e disposto a varar São Paulo, para levá-las a um porto seguro, quer dizer, um lugar que elas soubessem onde era… quem sabe o Jabaquara?

Mas a avenida das Juntas Provisórias faz caminhos fantástico, traça rotas loucas, que as jogaram na avenida Salim Farah Maluf, que as remeteu para o túnel de sua esposa, de onde elas saíram, sem ter noção de onde estavam, na avenida Tancredo Neves, que não é descendente de árabe, mas que foi presidente do Brasil e por isso também virou avenida, larga e bonita, se bem que em local incerto e não sabido, conforme informações as mais fidedignas, porque trazidas por quem esteve lá.

Lá que é um mistério onde fica, e que só virou aqui graças ao auxílio do motorista da Saveiro, que ao vê-las emparelhando e abrindo o vidro, imaginou que era o seu dia de sorte e encarnou todos os grandes pilotos da história, saindo feito um louco, avenida a fora, disposto a enfrentar moinhos e monstros, para provar a sua coragem e que era, além de bonito, macho e que merecia o seu amor.

A aventura durou boa parte da tarde, com as duas cruzando a cidade em todas as direções, como as advogadas perdidas costumam fazer, sem que nunca soubessem onde estavam, até darem no Jabaquara, quem sabe com a ajuda de São Judas.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.