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A Anistia que veio tarde

Eu conheci o Dr. Celso da Rocha Miranda em 1979, quando retornei da Alemanha e, por caminhos os mais estranhos, acabei sendo convidado por ele para integrar um grupo que deveria trazer seguradoras internacionais para atuarem no Brasil, associadas com a Companhia Internacional de Seguros.

O Dr. Celso era o controlador da Internacional, associada à Royal Insurance, a maior companhia seguradora britânica, e estava interessado em outras associações para competir nos seguros de grandes riscos. Nós trouxemos três companhias: a Hannover, atual HDI, a Zurich e a Factory Mutual, o que deu para a Internacional de Seguros condições de continuar competindo com as outras duas grandes seguradoras brasileiras, a Sul América e a Atlântica-Boavista, nas grandes contas empresariais.

Foi um período rico no campo profissional e no campo pessoal, quando conheci pessoas extraordinárias, como o próprio Dr. Celso, o Sr. Schlange-Schoeningen, Elizabeth Tsutsui e Karsten Faber, além de ficar amigo de vários nomes importantes do mercado segurador brasileiro.

Dr. Celso era o que se chamava um “Capitão de Indústria”. Além da Internacional de Seguros, controlava a Nitrocarbono e a Cobafi, no Polo Petroquímico de Camaçari, e era sócio controlador da Panair Linhas Aéreas, liquidada pelo governo militar, numa clara retaliação contra seus acionistas, Mário Simonsen e Celso da Rocha Miranda.  Coisas de Brasil, com ou sem ditadura. 

58 anos depois da liquidação da Panair, o governo brasileiro anistiou o grande empresário. É a justiça que tarda, mas não falha. Ou falha, porque Dr. Celso foi injustamente perseguido pelo governo da época, que quebrou e depois dividiu o butim da maior companhia aérea brasileira. Ele não tinha que ser processado, nem anistiado, tinha que ser condecorado, em vida.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.