Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Máquina de fazer loucos

[Crônica de 27 de julho de 2006]

O mundo moderno chegou num tal ponto de dependência que ninguém mais vive sem computador e telefone celular. Apesar de infernais, de só funcionarem quando querem – como os bancos que só oferecem dinheiro para quem não precisa – os computadores e telefones celulares são parte integrante da vida de todos, seja índio, seja cacique.

Se alguém acha que dependência de droga é coisa séria, é porque ainda não prestou atenção no que vai acontecendo no campo da dependência física e psíquica dos computadores e telefones celulares.

Cocaína, morfina, heroína, maconha, todas são fichinha perto de um celular de um modelo novo, com câmera fotográfica e baixador de MP3. 

Ninguém resiste ao brilho enganoso de um laptop na vitrine de uma loja, olhando fixo para você como que dizendo: me leva, me leva, me leva. Comigo sua vida vai mudar. Eu sou melhor que sexo, que jogo, que bebida, que carnaval. Eu sou o senhor dos senhores. O dono da felicidade, o encantador de cabeças. Me leva, e sua vida será outra.

E o ser humano, hipnotizado, leva. Compra a maquininha diabólica e arruma um jeito novo de descobrir que o inferno é muito mais sutil e mais cruel do que parece.

Que a palavra sofrimento pode ter um significado mais longo e mais dolorido. Que a felicidade que estava próxima com a chegada da máquina vai embora, apavorada com o que pode acontecer.

É quando as máquinas não funcionam e o dono descobre que matar é fácil, e que a tortura não saiu de moda, nem foi banida da vida na terra. Aí vem uma imensa saudade da época em que as calculadoras eram a manivela e as máquinas de escrever não conheciam a luz elétrica.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.