Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

A decadência do centro

[Crônica de 29 de junho de 1999]

São Paulo é uma cidade com uma mobilidade impressionante. Além disso, só neste século ela já foi praticamente demolida e reconstruída três vezes, o que dá a dimensão da sua pujança antropofágica e da sua capacidade inata de seu perpetuar, crescendo sempre, como os buracos que ao longo do últimos anos ela gerou.

Dentro dessa expansão imoderada, que nos primeiros 400 anos se manteve discreta, quem sabe por que São Paulo – o santo – tinha medo de soltar suas rédeas, tendo-o feito apenas porque São Sebastião estava muito prosa com o tamanho do seu Rio de Janeiro, a cidade cresceu para todos os lados, sem medir distâncias, nem se preocupar com os montes e os vales ao longo do seu caminho.

Nem mesmo as várzeas de seus rios principais foram poupadas e o resultado desta agressão são as enchentes que todo mundo diz que vai por fim, mas que continuam firmes e fortes, porque muito antes do homem branco chegar no planalto, elas já aconteciam, ano após ano, fertilizando os campos ao longo do Tietê e do Pinheiros, que por isso mesmo foram mais tarde usados para plantar arroz, ao que parece com bastante sucesso.

A consequência desses movimentos é que São Paulo tem um centro velho, um centro novo que também já é velho, a região da Paulista, que luta para não envelhecer, a Faria Lima que vai muito bem obrigado e a Berrini, para não falar em polos menores, que desempenham perfeitamente os seus papéis.

Hoje, o centro velho e o centro novo são uma única coisa, separados pelo Anhangabaú e unidos pelo viaduto do Chá. E o triste é que a decadência que se vê no centro velho também transparece no centro novo, sujo e maltratado como grande parte da cidade.

A grande esperança para os dois é o megaprojeto do prédio mais alto do mundo. Sem ele, se ele não sair do papel, do jeito que vai, vai muito mal.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.