Está contratado

[Crônica de 31 de dezembro de 1997]

Correa Jr. precisava engrossar a retirada. Redator, seu salário não dava para as despesas de casa e de fora de casa.

Por mais que ficasse na redação, por mais bicos que fizesse, a grana sempre acabava antes do mês, o que lhe trazia problemas sérios.

Velho homem de um tempo em que ser da imprensa tinha muito de poesia e pouca grana, Correa Jr. vivia preocupado com o tema, entre outras coisas porque ficar sem dinheiro antes do fim do mês, até hoje, não é gostoso.

Permanentemente atrás de um segundo salário fixo, ele vivia perguntando aos amigos se sabiam de alguém que estivesse precisando dos seus serviços profissionais.

Para ele qualquer coisa servia. De redator de discurso a redator de ata de assembleia geral, passando pelos meandros todos que fazem uma boa pena necessária também no mundo dos negócios, Correa Jr. se dispunha, mediante um pagamento razoável submeter-se aos interesses capitalistas, indispensáveis para a garantia de seu futuro.

Um belo dia lhe disseram que a Antarctica estava procurando um redator.

Imediatamente ele correu para os escritórios da empresa, disposto a brigar pela chance que lhe chegava mais brilhante do que a sorte grande pela loteria federal.

Lá, conversando com o pessoal, ficou sabendo que o encarregado da contratação era o dr. Teófilo Pupo Nogueira, homem duro e exigente, que não costumava contratar qualquer um, mesmo que o um trouxesse carta de apresentação.

Preocupado Correa Jr. entrou na sala do homem e sentou-se na sua frente:

– Bom dia, eu vim pelo emprego de redator…

– Está contratado!

– Mas o senhor nem sabe quem eu sou…

Sem levantar a cabeça, o executivo lhe respondeu:

– Não, o senhor é que não sabe quem eu sou. Lembra de um menino que fazia entregas na redação e para quem o senhor sempre dava um chocolate? Eu sou aquele menino. O senhor está contratado!
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