Um casal especial

Acordei pensando em tia Helene. Naturalmente, a lembrança evoluiu e pensei também em tio Lula, o marido dela. Primeiro, na casa da rua Traipu, depois, no sítio de Juquitiba.

Tia Helene e tio Lula formaram um dos casais mais maravilhosos que eu conheci. Duas pessoas especiais, inteligentes, divertidas, cultas e gostosas de se estar junto. E se teve uma coisa que eu fiz muito, foi estar com eles. Cada vez era um aprendizado de vida, de amor, de alegria.

Na longa história dos meus natais, nenhum chega perto dos natais na casa deles, na rua Traipu, no bairro do Pacaembu. O Natal de tia Helene começava três dias antes, na compra de dois pinheiros que amarrávamos um no outro para dar corpo à árvore de Natal que seria montada na noite seguinte, dia 23, para estar brilhando na ceia do dia 24.

Montar a árvore não era simplesmente colocar as bolas e luzes. Não! A árvore de Natal de tia Helene exigia uma operação de guerra, na qual não faltava a participação de dezenas de amigos, regada a música, papo, bebida e comida da melhor qualidade. E a aventura se estendia madrugada a dentro, até que, em algum momento inesperado, a árvore ficava pronta e nós íamos dormir, para, no dia seguinte, voltar para a ceia, que era, de novo, uma festa única, regada a música, papo, bebida e comida da melhor qualidade.

Mas o casal era muito mais do que o Natal. Seu sítio em Juquitiba era um lugar mágico. Quantos fins de semana nós fomos para lá aproveitar ela e ele, em papos maravilhosos, poesia, literatura, cinema e muita bobagem falada entre gargalhadas. Tudo regado a bebida e comida da melhor qualidade. Tia Helene foi das melhores cozinheiras que eu conheci e tio Lula fazia um dry martini imbatível!

Ter convivido com eles foi uma sorte, uma dádiva especial.

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