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Os churros na Mooca

[Crônica de 28 de dezembro de 2001]

O importante nesta vida é fazer bem-feito. Não importa o que, tudo se for bem-feito vale a pena. Tanto faz a colocação da pessoa, sua função e o que ela tem que fazer. Fazendo bem-feito, não tem esse negócio de eu sou mais porque ganho mais. Não, fazendo bem-feito, são todos iguais, porque o que importa no mundo é a obra de um homem, o que ele faz e como ele faz, ao longo de sua vida.

É por isso que eu quero falar do Toninho, e de seu boteco perdido na Mooca, sem placa na porta, sem luxo dentro, sem frescura. Seu Toninho é famoso na cidade por fazer os melhores churros de São Paulo. Churros que ele faz desde 1957 e que lhe garantem, desde aquela época, a casa cheia, mesmo funcionando num horário pouco ortodoxo.  

O seu Toninho trabalha das 3 e meia às 11 e meia da manhã, sempre com seu público fiel enchendo a loja, mesmo tendo que viajar por São Paulo, pra chegar na Mooca e comer os churros famosos. 

O Toninho faz o verdadeiro churro espanhol. E serve em três tamanhos diferentes que não são obrigatoriamente iguais. Ele corta no olho, meio que seguindo sua inspiração.

São essas coisas que fazem o Toninho e seu churros famosos. Ele faz bem-feito aquilo que faz, e tem amor pelo lugar onde trabalha, pela clientela, e pelo bairro onde está instalado, tanto que se recusa a mudar a cara do boteco, porque ele é parte da história da Mooca.

Se todo mundo fizesse como o Toninho que aos 71 anos de idade ainda faz os melhores churros de São Paulo, com certeza o Brasil teria outra cara, e seria mais correto e mais rico.

Seria um outro país, porque em vez de querer levar vantagem em tudo – e estragar quase tudo, um bom número de pessoas faria bem-feito, fosse lá o que fosse, pelo mesmo prazer do Toninho, de fazer bem feito o que tem que ser feito.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.