Trânsito nas férias

[Crônica de 24 de junho de 1997]

São Paulo nas férias fica com outra cara. Tanto faz ter ou não ter rodízio, o que efetivamente melhora o trânsito nas férias são as férias e estas não dependem de amadores, nem de demagogia barata de gente que não faz o que deve, mas que insiste em fingir que faz.

O que se vê pelas ruas da cidade nos meses de férias é quase que a paz.

até a trágica estrada do inferno, a avenida Rebouças de passado glorioso e presente catastrófico, anda. anda meu deus! anda como se houvesse uma saída, ou o fim do túnel não fosse tão escuro.

Anda como se os anjos do senhor fossem na frente, com suas trombetas divinas, abrindo caminho para os motoristas em estado de graça, de bem com as potências deste e do outro mundo.

o fantástico das férias, ou nas férias, é que até quem não costuma ser tão bem-educado assim, melhora, fica mais cordato, como se não tivesse tanta pressa, ou o seu lado masculino não se sentisse tão desmerecido, liberando-o de provar que “macho mata e não chora”.

As ruas fluem como os grandes rios que se espraiam pelas planícies, como as nuvens numa tarde de outono. 

Até os semáforos, incluídos os menos inteligentes, ficam pelo menos mais simpáticos, mais acessíveis, e funcionam como se a sincronia que lhes falta ao longo do ano, por encanto se fizesse presente nos meses de férias, para que os diretores da CET também tenham seus momentos de paz.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.