A festa do verão
[Crônica de 3 de fevereiro de 2006]
Verão é festa, é cor, é vida explodindo na vida que corre solta no suor escorrendo pelo corpo queimado de sol, andando com ginga num compasso completamente diferente dos outros dias do resto do ano.
Verão é calor esquentando a alma, nos olhos que sorriem mais que a boca, convidando pra festa de luz nascendo num amanhecer de sonho, atrás das ondas, no fundo do alto mar.
É o sonho acordando na algazarra dos periquitos voando de palmeira em palmeira, arrancando os coquinhos e gritando como que anunciando o começo da festa da fartura, na generosidade da planta se entregando, fazendo sua parte na orgia da estação que, pelo clima; pela luminosidade; pela moleza dos corpos; convida para o amor, para a entrega, para dividir a vida na soma da busca, feito imãs correndo atrás do polo norte.
Verão é a cumplicidade do ser humano com a natureza. O momento da descoberta, do respeito, do entendimento. Campos e matas, rios e lagos, mares de todas as cores. O encontro arranca lembranças atávicas, escondidas na floresta da memória coletiva, de um tempo em que nós corríamos pelo mundo, sem saber direito para onde, nem como, na luta incessante pela perpetuação da espécie.
Verão é a resposta desta busca. O encontro da resposta. E a comemoração. Cada gota de suor escorrendo no corpo é a oferenda para a divindade. A entrega do corpo num holocausto de redenção onde a vida se faz mais vida e mais presente, na intensidade dos sentimentos bons que se espalham em volta.
Verão é celebração. É magia. É chope gelado, férias, carnaval. É tudo que o resto do ano não é. Por isso, o verão acaba logo.
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