Rua Augusta
[Crônica de 12 de maio de 2004]
Quando eu era menino e estudava no Dante Alighieri, era comum, nos anos de ginásio, cabular as aulas no sábado para ir até a rua Augusta, escutar música na HI-FI e, se desse, de vez em quando, levar embora, sem pagar, um compacto com a música da moda.
Foi assim que eu consegui La Bamba, mas cantada pelo Prini Lorez que era um brasileiro que imitava o Trini Lopez, o verdadeiro cantor da música.
Era gostoso sair do colégio, volta e meia por um buraco que tinha num dos muros, e fugir para a rua da moda, ver o movimento dos carrões importados que subiam e desciam como se fizessem um footing motorizado, ou alguma coisa entre uma parada e um corso de carnaval.
Foi nessa época que Rony Cord gravou “desci a rua Augusta a 120 por hora”, só que se ele realmente fez isso, foi de madrugada, porque durante o dia o trânsito se arrastava quase no mesmo ritmo das marginais de hoje.
Os motivos eram outros e ninguém tinha pressa, mas que a coisa ia devagar, ah, ia. Levava uma eternidade subir ou descê-la e a rua ficava mais comprida ainda quando alguém como meu amigo Coruja arrumava uma Romi-Isetta para passear por ela.
Aí, vieram os shoppings centers e a rua Augusta entrou em agonia. Uma agonia lenta, mas sofrida, que se estendeu por ela devagar, vinda da direção do centro para o bairro, engolindo as lojas finas e os cinemas da moda, inexoravelmente, como uma sucuri devorando a presa.
Anos depois houve um primeiro suspiro para resgatar a rua Augusta. Um suspiro que se não teve fôlego longo, parou no meio, recuperando um espaço que agora parece que vai sair do buraco, graças a Deus.
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