As igrejas na quaresma
[Crônica de 8 de março de 1999]
Hoje é quarta-feira de cinzas. Houve tempo em que as pessoas, neste dia, para externar seu sofrimento, cobriam suas cabeças com cinzas, rasgavam suas roupas e choravam.
Era a forma de provar sua fé e mostrar sua imensa tristeza pelos padecimentos do Cristo, até sua crucificação, 40 dias depois.
Hoje os tempos mudaram e as penitências muito rigorosas perderam seu espaço, em nome de jeitos mais amenos de mostrar a fé e a crença na ressurreição do filho de Deus.
Quem sabe as que agem de forma mais acertada sejam as quaresmeiras, que se enfeitam de flores para saudar a redenção do homem na morte de Jesus.
As igrejas, como as árvores, também se vestem de roxo. Cobrem suas estátuas e seus adornos com panos escuros, para mostrar aos fiéis que é tempo de tristeza e de reflexão, de olhar no mais fundo da alma e fazer um balanço de todas as coisas que temos feito, as boas e as ruins, para nos arrependermos das segundas e insistirmos nas primeiras.
Entre todas as igrejas que eu já visitei na quaresma, a mais bonita de São Paulo é a igreja do Mosteiro de São Bento.
Severa em suas linhas alemãs, a igreja da velha ordem que desde 1.598 ocupa o largo que leva seu nome, é sempre uma das igrejas mais bonitas da cidade.
E nesta época, com suas imagens deslumbrantes recobertas de roxo, a luz de seu interior, iluminado através dos vitrais que enfeitam suas janelas, adquire um tom único, diferente do resto do ano.
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