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A feira do Pacaembu

[Crônica de 13 de outubro de 1998]

Quando eu era menino, a feira do Pacaembu era enorme e linda. Existe uma beleza toda especial nas feiras livres. Sua apresentação, as bancas, as cores, a forma como os comerciantes anunciam os seus produtos, somados, fazem das feiras livres um universo todo próprio, onde a arte de vender e negociar retorna às suas origens, ainda que os feirantes não sejam mais os produtores iniciais, que vinham uma vez por semana, colocar seus produtos nas cidades.

Entre as feiras paulistanas, 25 anos atrás, a feira do Pacaembu tinha um destaque muito grande, sendo das mais caras e mais completas, espalhada em filas simétricas ao longo da praça na frente do estádio.

Mesmo depois de eu mais crescido, a feira do Pacaembu manteve sua postura clássica, bela entre as mais belas feiras da cidade, e com um pastel de queijo que nunca deveu nada aos melhores pastéis paulistanos.

Depois começaram as obras do piscinão… É impressionante como obras são capazes de descaracterizar uma região… Dificilmente, um local fechado por muito tempo, por conta de reformas ou mudanças, quando reaberto volta a ser o mesmo, ou sequer mantém seu antigo caráter.

Pois a feira do Pacaembu, depois do fim das obras do piscinão, nunca mais voltou a ser mesma. nem mesmo seu tamanho se iguala ao que ela foi no passado. Da imponência quase grandiosa não sobrou nem um vago esboço, que dê a quem a ver hoje uma leve ideia do que foram os seus grandes dias.

Quem sabe se seja sabe seja este o destino de todas as coisas sobre a terra. Se os faraós que construíram as pirâmides passaram, se Péricles e seu século de ouro sobrevivem nas ruínas da acrópole, se Luiz 14 é um enorme jardim nos fundos de Versalhes, por que a feira do Pacaembu sobreviveria eternamente grande e grandiosa?

De qualquer jeito é triste vê-la minguando, como é triste ver que a cidade insiste em perder sua memória.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.