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O Ipê caiu

O grande ipê da Rua Kansas caiu. Veio abaixo trazendo fiação e poste, interditando a rua, mas sem causar maiores danos aos moradores do pedaço. Com exceção de um carro estacionado na rua, que ele atingiu o capô, o ipê da Rua Kansas caiu como se tivesse um carinho especial pelos vizinhos de tantos anos, que ao longo do tempo dividiram com ele a riqueza de suas floradas.

As tempestades de verão são brutais e cruéis, não poupam pessoas, prédios, patrimônios ou árvores. Se abatem com a violência da natureza em sua majestade e levam de passagem o que encontram pela frente e que não está preparado para enfrentar sua força.

O ipê da rua Kansas era uma árvore imponente. Grande e alta, todos os anos se cobria de flores, mostrando que a beleza da vida pode estar nas pequenas pétalas que cobrem os ipês nos momentos de suas floradas.

Plantado na calçada estreita, sua cova foi ficando pequena à medida que ele crescia. Em busca de mais espaço, suas raízes levantaram o piso da calçada, mas não foi suficiente para manter o equilíbrio necessário para desafiar os elementos.

Nada no mundo acontece por acaso. A queda do ipê da Rua Kansas tem mais de uma interpretação, ou mais de uma razão, depende do ponto de vista. Para um botânico analisando friamente o acidente, foi porque suas raízes, espremidas pelo pouco espaço da calçada e doentes pela falta de manutenção, não tiveram a força necessária para enfrentar mais uma tempestade extraordinariamente violenta.

Mas também pode ter sido um sinal. Dali pra frente, os preços estavam pagos, era hora de descansar, mudar de plano, uma despedida radical para libertar o espírito e deixar que a história de quem fica siga seu rumo, com as lembranças e o amor aproximando as vidas que seguem em frente.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.